terça-feira, 30 de junho de 2015

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ARTE: DESAFIOS E CONQUISTAS

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ARTE: DESAFIOS E CONQUISTAS NA FORMAÇÃO FORMAL E NÃO FORMAL.
Paulo Diaz Rocha[1]

Se mostra pertinente conceituar esta área de reflexão e ação em Educação Ambiental e problematizar suas práticas atuais, indicando sua função social e seus potenciais perante a questão ambiental. Procura-se portanto refletir sobre a aproximação entre estes três campos. A problemática é da dificuldade e ao mesmo tempo o potencial, por meio das artes, de sensibilizar e envolver diversos tipos de público.
Paulo Diaz Rocha
 O que se pretende é contribuir para a mudança de hábitos, visando uma participação criativa, a princípio despretensiosa, mas inteligente e provocativa perante o consumo, uso, descarte etc. Portanto, a Arte Educação Ambiental – AEA, como tenho denominado este campo de reflexão-ação, é vista aqui como o trabalho lúdico e também engajado, usado em função de sua utilidade pedagógica e tendo como objetivo final uma alteração radical do modus vivendi atual e a consequente proteção ambiental. Assim, ela serve para estimular a criatividade, mas não como fim em si mesma (arte pela arte) e sim política, militante, ideológica. Creio que ela tenha um papel direcionado para o comprometimento do artista e sua responsabilidade como cidadão planetário. “Artista” no sentido de toda e qualquer pessoa criativa; como todo indivíduo dedicado ao seu desenvolvimento mental, imaginativo e altruísta. E, mesmo que não tenha um amplo e refinado desenvolvimento estético, procura sensibilizar-se e a outrem através de seu potencial de expressão. Deste modo, aponto restrições, embora pertinente em certas ocasiões, quanto ao uso, posso dizer, ingênuo da AEA apenas como passatempo ou recreação e ainda reprodutor desta sociedade, uma vez que não esteja conectada diretamente com um projeto maior de alteração do paradigma insustentável da sociedade atual. Pode-se dizer que, embora não exista uma real avaliação da estratégia de ação através da Arte Educação, os educadores, ambientais ou não, têm reunido muitas experiências na busca pela construção de uma sociedade planetária sustentável. E diversas pesquisas no país e no mundo (M. de L. M. PEREIRA, J. F. DUARTE JR, H. GARDNER, J. HUIZINGA, M. RIBON e R. SHUSTERMAN) têm indicado a ludicidade e a criatividade como fundamentais como fator de sensibilização e de envolvimento cidadão.
Oficina de Arte Educação durante a RIO + 20

A partir de jogos, dinâmicas, oficinas, cursos e aulas, há maior participação por meio delas, apontando para um crescente movimento das artes promotoras da cidadania crítica e de intervenção local, de rua, visando à sustentabilidade. Assim, creio que as ações relacionadas à Arte Educação são de vital importância para incrementar a participação individual e coletiva direcionada à sustentabilidade. Portanto, a AEA pode ser vista como uma ferramenta de promoção de reflexões e ações e tem se constituído como componente imprescindível para uma maior presença da questão ambiental em diversas atmosferas, tanto formais quanto não formais.


A arte não é um elemento vital,
mas um elemento da vida.
Mario de Andrade

[1] Biólogo, educador do Programa Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares – ITCP da USP. Contato: pdiaz@usp.br

Biólogo (USU) e mestre em botânica (Unesp) e doutor pela UFRRJ. Possui experiência em educação ambiental e agricultura biodinâmica. Fundador do “Instituto de Estudos da Complexidade e da Intrépida Trupe”; participou do projeto “Saúde e Alegria em Santarém – PA”; coordenou a equipe do “Programa Protetores da Vida na Baía de Guanabara - RJ”; atuou como arte educador ambiental no “Programa Aprendiz Comgás – SP”. Atualmente trabalha como educador ambiental do Programa USP Recicla e organiza a coleta seletiva no campus da capital.  

Terras Indígenas em São Paulo representam Preservação Ambiental

Cerca de 800 índios da etnia Guarani Mbya vivem no bairro do Jaraguá, em São Paulo em três aldeias: Tekoa Pyau e Tekoa Ytu (em área urbanizada) e Tekoa Itakupe (em área não urbanizada). Até agora, o processo de demarcação só está completo na aldeia Ytu, cuja área é muito pequena: 1,7 hectare (menor que dois campos de futebol).
Porém, essa realidade está começando a mudar. Em 29 de maio, o Ministério da Justiça assinou a portaria declaratória da Terra Indígena Jaraguá. Isso quer dizer que o governo reconheceu oficialmente o estudo feito pela Funai que considera 532 hectares da região como terras tradicionais dos guarani. Para que seja concluído o processo de demarcação desses 532 hectares é necessário agora que a presidenta Dilma Roussef assine a homologação do processo.
A assinatura da portaria declaratória é uma vitória para os guarani que vêm resistindo contra particulares que se dizem donos das terras onde estão as aldeias Pyau e Itakupe. No caso da aldeia Itakupe, a Justiça Federal de São Paulo chegou a conceder liminar de reintegração de posse ao ex-prefeito de São Bernardo do Campo, Antonio Tito Costa, que se diz dono de 72 hectares que fazem parte da Terra Indígena Jaraguá.
Além de se referir aos guarani de maneira preconceituosa em entrevistas concedidas à imprensa, Tito Costa também declarou que tinha a intenção de plantar eucaliptos no local e fazer uma olaria nessa área que é um dos poucos espaços remanescentes de Mata Atlântica na cidade de São Paulo. Para pedir o fim dessa ação judicial, os guarani fizeram um Ato público no dia 18 de junho. Mais de 300 guarani e apoiadores da causa fecharam a Avenida Paulista e a Consolação.

 
O que representa Itakupe
Em Itakupe, os guarani têm agua limpa e em abundância vinda de inúmeras nascentes do córrego Manguinhos e do Ribeirão São Miguel. É nesse espaço também, onde ainda não chegaram sinais do “progresso” como asfalto e luz elétrica que os guarani têm plantação de subsistência de alimentos tradicionais de sua alimentação como milho, batata doce e cana.
O cacique de Itakupe, Ari Augusto Martins sonha em transformar Itakupe em uma aldeia modelo. Agora, com a assinatura da portaria declaratória, ele está mais perto de realizar seu projeto, que inclui construção de habitações tradicionais e ensino das tradições guarani para as crianças da aldeia.
A demarcação da Terra Indígena Jaraguá protege as aldeias que hoje são ameaçadas por interesses de particulares (Pyau e Itakupe) e também representa um avanço na preservação ambiental, beneficiando toda a cidade. Isso porque o modo de vida índigena é de profundo respeito e convivência com a natureza, sem destruí-la. Ao contrário do senhor Tito Costa, os guarani não pretendem plantar eucaliptos em Itakupe, mas sim árvores de espécies nativas, ajudando na reflorestação das áreas que já foram afetadas pela ação do homem. Da mesma forma, querem conviver e preservar as espécies animais que habitam ali. Em Itakupe há inúmeras espécies de pássaros, incluindo tucanos , garças e pica paus, além de macacos e saguis, etc.
 
Agora é Tendonde
 Durante o Ato do dia 18 na Avnida Paulista os guarani também chamaram a atenção para a causa de outra Terra Indígena que aguarda portaria declaratória do ministro Cardozo. É a Terra Indígena de Tenonde Porã, que abriga quatro aldeias no extremo sul de São Paulo, próximo à represa Billings. Duas delas ficam em Parelheiros (Aldeia Barragem e Aldeia Krukutu), uma está próxima ao distrito de Marsilac (Tekoa Kalipety) e a quarta localiza-se em São Bernardo do Campo (Aldeia Guyrapaju). As duas primeiras foram reconhecidas na década de 1980 com 26 hectares cada uma. Atualmente com uma população de cerca de 1.400 pessoas distribuídas entre as quatro aldeias, as áreas reconhecidas na década de 1980 tem uma densidade populacional crítica de 26 pessoas por hectare, o que também é causa da maioria dos problemas pelas quais enfrentam os Guarani.



Segundo a Comissão Yvyrupa, organização dos guarani, “após a reivindicação das lideranças, iniciou-se em 2002 um estudo para a correção desses limites, de acordo com os parâmetros constitucionais. Dez anos depois, em 19 de abril de 2012, a Funai aprovou e publicou no Diário Oficial da União (Portaria FUNAI/PRES No 123) os resultados dos estudos técnicos que reconhecem cerca de 15.969 hectares como compondo os limites constitucionais da Terra Indígena Tenondé Porã, que abrange essas três aldeias da região sul. O processo agora também está nas mãos do Ministro da Justiça, de quem os Guarani reivindicam a publicação imediata da Portaria Declaratória da TI Tenondé Porã”. Assim como no Jaraguá, demarcar como guarani as terras de Tenonde Porã é importantíssimo não só para a preservação da cultura e do modo de vida tradicional desse povo, como também para garantir a preservação dessa enorme área remanescente da Mata Atlântica que já é alvo de interesse de exploração de suas riquezas naturais.
Adriana Carvalho
Jornalista Adriana Carvalho   contato drica.carvalho@gmail.com
Apoio: Adham Z. Nahualli

Nomes indígenas dos lugares: conhecer e cuidar

Lembrar dos nomes: conhecer e cuidar

Antônio Neto (Linguista Pela USP, membro do grupo LEETRA)
Lucas Ciola (Linguista Pela USPe Educador ambiental, co-autor do livro “Horta escolar”)
Renato Fonseca (Educador e membro do grupo LEETRA)

              A Rodovia Régis Bittencourt, que faz parte de uma das principais estradas do nosso país, a BR 116, está rodeada por muitos histórias, ocorridas antes e ao longo de sua existência. Nesta coluna, propomos a você que, ao lembrarmos os sentidos dos nomes de lugares, podemos conhecer e cuidar melhor dos lugares em que vivemos. Quem nunca ouviu a professora, a mãe ou a avó cantar aquela música: "Corre cotia na casa da tia, corre cipó na casa da avó (...)?" Todo mundo aprendeu a cantar essa música antes mesmo de aprender a ler! Ela é um elemento da nossa cultura oral, ou seja, aquela que foi passada por gerações e gerações através da memória das pessoas. Quem nunca se perguntou o quê essa música quer dizer? De onde veio essa letra?
            Ora, ao que tudo indica, a letra dessa cantiga de roda tem origem aqui mesmo no sul do Estado de São Paulo e pode nos dar pistas de como se configurava o espaço da região. Vejam como a partir de uma simples música infantil podemos extrair um conhecimento ancestral e antigo sobre o espaço em que vivemos. Cotia e Cipó são nomes indígenas que aparecem na cantiga, e são também nomes de cidades que hoje existem em São Paulo. Uma delas em nossa região, a cidade de Cipó-Guaçú.

            Quando os indígenas que viviam em São Paulo (isso muito antes de qualquer europeu sonhar com a América) saiam do lugar que eles chamavam de Piratininga  em direção a um outro lugar chamado de Sorocaba, eles se utilizavam de um caminho que eles denominaram de Acuti, porque ali havia muitas cotias, que são roedores parecidos com a capivara.  Do lado oposto, havia um outro caminho, e esse sim nos interessa, chamado caminho do cipó.
 
 Vinda do tupi antigo, Piratininga significa rio dos peixes secos. De pirá - peixe + tining/a + -a - seco: peixes secos. Foi o antigo nome de São Paulo. (Imagem extraída do Dicionário ilustrado tupi-guarani)

            Cipó é, na verdade, o nome de um rio que existe ainda hoje em nossa região. Ele é afluente de um outro rio muito importante, chamado Embu-Guaçu. O nome cipó se refere a uma planta  trepadeira muito comum nas matas brasileiras. Os indígenas davam nomes para os lugares observando os detalhes e características regionais. Os cipós, por exemplos, exercem papel fundamental no Meio Ambiente, pois permitem a locomoção de alguns animais, como espécies de macacos e preguiças, além de terem flores que oferecem pólen e néctar a algumas aves, morcegos, etc. O nome da cidade, Cipó-guaçú, contém outro elemento vindo de uma língua indígena, que penetrou em muitas palavras do português. Guaçú, ou somente “açu”, significa que algo tem tamanho grande. Daí podemos entender que devia haver grandes cipós que, provavelmente, estavam nas margens do rio Cipó.

 sagui-de-tufos-pretos, mico-estrela (Callithrix penicillata)é uma espécie típica de macaco que anda pelos cipós da Mata Atlântica
               Por isso, conhecer o significado desses nomes usados pelos nossos antepassados é muito importante para conhecer a história originária dos nossos bairros, cidades, assim como do nosso país e, principalmente, para entender porque devemos cuidar dos nossos espaços. Agora que você já sabe o que significa guaçu, ficou mais fácil de saber o que significa Embu-guaçu, certo? Ainda não? Então aguarde nossa próxima coluna para saber mais sobre o nome desse outro município!

Para saber mais:
http://www.diversidadesemespiral.pro.br/
http://www.leetra.ufscar.br/cakephp/pages/index

Dicionário de Tupi Antigo - A língua indígena clássica do Brasil. 1. ed. São Paulo: Editora Global, 2013