terça-feira, 30 de junho de 2015

Nomes indígenas dos lugares: conhecer e cuidar

Lembrar dos nomes: conhecer e cuidar

Antônio Neto (Linguista Pela USP, membro do grupo LEETRA)
Lucas Ciola (Linguista Pela USPe Educador ambiental, co-autor do livro “Horta escolar”)
Renato Fonseca (Educador e membro do grupo LEETRA)

              A Rodovia Régis Bittencourt, que faz parte de uma das principais estradas do nosso país, a BR 116, está rodeada por muitos histórias, ocorridas antes e ao longo de sua existência. Nesta coluna, propomos a você que, ao lembrarmos os sentidos dos nomes de lugares, podemos conhecer e cuidar melhor dos lugares em que vivemos. Quem nunca ouviu a professora, a mãe ou a avó cantar aquela música: "Corre cotia na casa da tia, corre cipó na casa da avó (...)?" Todo mundo aprendeu a cantar essa música antes mesmo de aprender a ler! Ela é um elemento da nossa cultura oral, ou seja, aquela que foi passada por gerações e gerações através da memória das pessoas. Quem nunca se perguntou o quê essa música quer dizer? De onde veio essa letra?
            Ora, ao que tudo indica, a letra dessa cantiga de roda tem origem aqui mesmo no sul do Estado de São Paulo e pode nos dar pistas de como se configurava o espaço da região. Vejam como a partir de uma simples música infantil podemos extrair um conhecimento ancestral e antigo sobre o espaço em que vivemos. Cotia e Cipó são nomes indígenas que aparecem na cantiga, e são também nomes de cidades que hoje existem em São Paulo. Uma delas em nossa região, a cidade de Cipó-Guaçú.

            Quando os indígenas que viviam em São Paulo (isso muito antes de qualquer europeu sonhar com a América) saiam do lugar que eles chamavam de Piratininga  em direção a um outro lugar chamado de Sorocaba, eles se utilizavam de um caminho que eles denominaram de Acuti, porque ali havia muitas cotias, que são roedores parecidos com a capivara.  Do lado oposto, havia um outro caminho, e esse sim nos interessa, chamado caminho do cipó.
 
 Vinda do tupi antigo, Piratininga significa rio dos peixes secos. De pirá - peixe + tining/a + -a - seco: peixes secos. Foi o antigo nome de São Paulo. (Imagem extraída do Dicionário ilustrado tupi-guarani)

            Cipó é, na verdade, o nome de um rio que existe ainda hoje em nossa região. Ele é afluente de um outro rio muito importante, chamado Embu-Guaçu. O nome cipó se refere a uma planta  trepadeira muito comum nas matas brasileiras. Os indígenas davam nomes para os lugares observando os detalhes e características regionais. Os cipós, por exemplos, exercem papel fundamental no Meio Ambiente, pois permitem a locomoção de alguns animais, como espécies de macacos e preguiças, além de terem flores que oferecem pólen e néctar a algumas aves, morcegos, etc. O nome da cidade, Cipó-guaçú, contém outro elemento vindo de uma língua indígena, que penetrou em muitas palavras do português. Guaçú, ou somente “açu”, significa que algo tem tamanho grande. Daí podemos entender que devia haver grandes cipós que, provavelmente, estavam nas margens do rio Cipó.

 sagui-de-tufos-pretos, mico-estrela (Callithrix penicillata)é uma espécie típica de macaco que anda pelos cipós da Mata Atlântica
               Por isso, conhecer o significado desses nomes usados pelos nossos antepassados é muito importante para conhecer a história originária dos nossos bairros, cidades, assim como do nosso país e, principalmente, para entender porque devemos cuidar dos nossos espaços. Agora que você já sabe o que significa guaçu, ficou mais fácil de saber o que significa Embu-guaçu, certo? Ainda não? Então aguarde nossa próxima coluna para saber mais sobre o nome desse outro município!

Para saber mais:
http://www.diversidadesemespiral.pro.br/
http://www.leetra.ufscar.br/cakephp/pages/index

Dicionário de Tupi Antigo - A língua indígena clássica do Brasil. 1. ed. São Paulo: Editora Global, 2013

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