quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Meio Ambiente e Nutrição na Cultura Indígena

Meio Ambiente e Nutrição na Cultura Indígena
Texto da indígena We'e'ena Tikuna
Apoio: Rosi Araújo



Weena Tikuna Miguel
Antigamente nós indígenas tínhamos uma alimentação saudável na qual comíamos somente na hora em que tínhamos vontade de se alimentar. Nossa alimentação era á base de alimentos da terra, do ar, das águas dos rios, lagos e do mar, que incluía: frutas, legumes, castanhas, ervas, raízes, peixes, tartarugas, caranguejos e até insetos como tanajuras, formigas e larvas de madeiras podres, ricas em vitaminas e sais minerais. Carne de animais viventes na selva e pássaros, desde que sendo fêmeas não estivesse prenha (grávida), sendo tudo á seu tempo de captura e colheita, tirando os frutos somente dentro do seu tempo de maturação (sazão) época em que os pássaros e animais também iniciavam sua colheita para alimentação.



Atualmente com o crescimento e a aproximação das grandes cidades que cada ano invadem as nossas aldeias levando acesso a tecnologia e o programa de inclusão social, as comunidades indígenas atualmente vêm se alimentando com os produtos industrializados á base de corantes e conservas, gerando a uma má alimentação das crianças indígenas e adultos, gerando obesidades e doenças que a cada ano levam a morte dos indígenas aldeados.


Na maioria das comunidades indígenas a alimentação é algo feito em conjunto envolvendo todos da comunidade, porem com papéis e atividades separadas dentre o que faz os homens e as mulheres, porque na cultura indígena todos que se alimentam devem trabalhar de forma coletiva na obtenção dos alimentos, mesmo que a participação seja de forma direta ou indireta, resultando numa boa harmonia com os demais. No entanto cabe aos homens as atividades de caça, pesca, de guerra, a construção das ocas e a derrubada do mato para a criação da roça. Cabem às mulheres as tarefas relacionadas ao preparo dos alimentos, ao cuidado com as crianças e parte da atividade na roça como a colheita. Na cultura indígena as atividades feitas por cada um dos gêneros (feminino ou masculino) se completam, pois juntas garantem a qualidade de vida de toda a comunidade. O pajé é sempre o mais velho. Ele é o curandeiro, e não feiticeiro, é dedicado aos conselhos e rezas, abençoando a caçada e a colheita, garantindo assim a espiritualidade e irmandade fraternal dos membros da comunidade. Por tradição a comunidade sempre separa algo para levar até a maloca do pajé para que ele possa se alimentar de igual para igual e isso forma um conjunto de respeito e ordem na organização.


Na verdade os povos indígenas não possuem religião e sim espiritualidade. Na cultura indígena brasileira algumas etnias sempre antes de irem caçar, pescar ou plantar, pedem autorização para os espíritos da floresta e da terra oferecendo cânticos e danças de gratidão ou mesmo pedindo que liberem uma boa caça, bom plantio e uma boa produção da alimentação. Nas aldeias geralmente a alimentação é sempre oferecidas primeiro para as crianças e os mais velhos; e depois é divido em geral para todos. Na espiritualidade indígena o criador oferece os frutos, os peixes, e a caça no tempo certo em que o nosso organismo precisa receber aquelas vitaminas.


É grande a contribuição da nossa cultura indígena no cardápio brasileiro, como: mandioca, inhame, batata doce. Nos temperos, o urucu, cheiro verde, coentro, pimenta e dezenas de frutas de nomes indígenas originárias do nosso Brasil, como: abacaxi, cajá, jaca, açaí, guaraná, cupuaçu, ingá, e outras. A cultura indígena não usa agrotóxicos em suas plantações, e usa apenas adubos naturais á base de cinzas, folhas e esterco animal, alem dos alimentos fornecidos pela fauna e flora que são recursos de sobrevivência que a própria natureza nos trás. Por isso a terra é muito importante para os povos indígenas que entende que a terra não é dos homens, mas o homem é parte da terra. A terra apenas nos empresta seus nutrientes, a água, os minerais, o cálcio, ferro, alumínio, mas ao morrermos devolveremos tudo á terra. Dela nada levaremos!


É de grande importância para nós a preservação do meio ambiente porque daí que tiramos o nosso sustento e a sobrevivência do dia a dia. Na cultura indígena não geramos resíduos sólidos "lixo"; somente o orgânico como restos de frutas, cascas, e nossas necessidades fisiológicas num processo de disseminação natural sem degradar o meio ambiente, mantendo os nossos rios limpos e sem poluição, sempre produzindo uma boa alimentação nutricional e saudável.
Infelizmente a cada ano vem diminuindo a preservação do meio ambiente por causa do conforto e o chamado "progresso", prejudicando também a alimentação dos povos indígenas que antes sobrevivam da flora, pesca e caça. Hoje os comércios das cidades vendem alimentos industrializados, cheios de gorduras, artificiais e com agrotóxicos, prejudicando as crianças da cidade e também nossas crianças indígenas.


A Índia Tikuna We’e’ena Miguel, que na língua indígena Tikuna significa “onça nadando para o outro lado do rio”, nasceu na Aldeia Tikuna de Umariaçu, município de Tabatinga no do Amazonas, é a Presidente Nacional das Mulheres Indígenas do Brasil eleita pela LIBRA-Liga das Mulheres Eleitoras do Brasil, é Cantora e formada em Artes Plástica pelo IDC- Instituto Dirson Costa de Arte e Cultura do Amazonas. Hoje, 12 de suas obras compõem o acervo de exposição permanente no Museu Histórico de Manaus-Amazonas.


Faz o 3º ano de Nutrição na FACULDADE UNIABC- ANHANGUERA, é membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, da Academia Brasileira de Arte e Cultura, atualmente vem realizando shows e palestras sobre a cultura indígena em fóruns, universidades, teatros e TVs é uma ativista indígena.
“Um grande erro no Brasil é achar que uma índia de sucesso internacional, formada e morando em um castelo não é mais índia”.
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